domingo, 24 de agosto de 2008

Palavras não ditas

A Luciana Saddi é uma psicanalista que escreve para a Revista da Folha. Hoje saiu um texto dela na seção "Fale com ela" que tem muito a ver com as idéias de um texto que escrevi há pouco tempo e postei aqui. Segue abaixo:

Sou quieto. Não gosto de falar sobre mim. Entre amigos, opto por ouvir, falo apenas o essencial, o que me traz prejuízo, pois pareço frio, antipático ou tímido, ainda que não prejudique ninguém. Gosto das pessoas, mas elas não aceitam meu modo de ser e me decepciono ao descobrir que falam, pelas costas, que sou chato, desagradável. Tento mudar, mas é cansativo ser o que não sou.

A palavra pode ser plena, como a poesia que caça a essência das coisas e nos espeta com sentidos inusuais. A palavra pode ser como a prosa que mergulha no mundo e se derrama pelos livros de referência. A palavra pode ser vazia, conversa fiada. A palavra cria amantes, gera guerras e até funciona como um atentado terrorista, mas também acalma, nina, aconchega. É um instrumento extremamente poderoso.
Ao falar, nos revelamos, nos escondemos, nos traímos. Quando conseguimos dizer o que queremos (é preciso coragem), nos colocamos de forma singular no mundo, mas o silêncio também faz parte da comunicação e pode significar indiferença, superioridade, medo de se mostrar, insegurança.
Não controlamos o que as pessoas pensam sobre nós, mas é importante considerarmos a opiniõ delas quando essa se torna uma unanimidade. Ou você não sabe como transmitir seus afetos e, por isso, não é reconhecido de forma positiva, ou não percebe que há certa hostilidade no seu modo de ser, como se houvesse uma recusa em participar desse mundo, algo que o afasta das pessoas. A singularidade é sempre um alto preço a se pagar.

2 comentários:

Lydson Henrique San Miguel Garcia disse...

Isso me lembra de uma menina que eu tava conversando o outro dia.
Ela era tímida também e fazia o tipo metida mais quando você chagava pra falar com ela, mudava completamente. Ficava como uma figura cheia de insegurança, medo. Eu sabia que aquilo era pela timidez e não porque ela era assim. Eu estranhei minha reação. Parei de conversar com ela porque achei ela metida demais. Eu sabia a razão porque antes era assim e até tinha pensado em ajudar, mais pela primeira vez me senti do outro lado e entendi porque as pessoas tímidas tem menos amigos. Era insuportavel ficar do lado dela. Parecia que estava me sufocando e acabei decidindo me afastar.

Isso me mostrou uma coisa muito importante. As pessoas não se importam umas com as outras. Eu sabia como ajudar mais não ajudei porque achei mais facil. Desde esse dia eu parei de me importar com o pensamento dos outros sobre mim.

Lembrem disso. Mesmo você estando em problemas, ninguem vai extender o braço pra te ajudar porque as pessoas pensam antes nelas e depois nos outros(salvo algumas excessões)

Anônimo disse...

Me identifico com esse cara da materia e rola isso mesmo. Nao precisa prejudicar as pessoas e ver como reagem diretamente pra perceber q o seu modo de expressar ja causa uma reação semelhante na pessoa por si so.
Ficou confuso mas façam um esforço ai rsr